quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Esta é a canção que eu fiz e não queria



Rap da delegacia   -  

Autor – Odair Ribeiro.

Limiar do século vinte e um, a VTR sobe o morro e prende mais um.
O Zé, um dos primeiros no tráfico, viciado prisioneiro do crac.
Perdeu a mulher, o orgulho, a amante, os filhos.
Levou muita porrada, cadeia, nunca deu ninguém,
Não leva este espinho na veia.
Chora, a saudade vem, lembra do tempo de criança, da mãe do pai.
Tempos que não voltam mais...

Mas tem muito safado, político, polícia, vagabundo.
Tem gente boa, coisa rara, analisa meu olho profundo.

Ôh lugar!
Neles vivem juntos pureza e poluição.
Poluição, o tira ta na merda, quer carro, casa, lazer, comida e salário,
 Me passa tua grana seu otário.
Nas ruas cobram pedágio, a lei vira bandido, corrupção.
Botam assalto com os pés e com as mãos,
Me tapa de nojo de quere quero.
Qual é o teu nome meu filho?
Não sabe!
Amanhã tu vens mais cedo, vem sorrindo, cantando e esconde esse
Esconde esse medo, vem sorrindo cantando e esconde esse medo.

Esta é a canção que eu fiz e não queria
Este é o rap da Delegacia
Esta é a canção que eu fiz e não queria
Este é o rap da Delegacia

Queria amenizar, afrouxar, deixar passar batido, esquecer.
Esquecer não é possível, sirenes cortam o silêncio da noite, dilaceram os corações.
O menino paralisado não entende não chora, os amarelos levam seu pai pra prisão.
É um laranja, rolam cascas pelo chão.

Busco ficar mais layth, sosait, filosofar outras besteiras...
A lua tem vida, marte não é verde.
O sol se abre e me dá sede.
Sedentos de poder estão.
Serram os punhos, matam a esperança.
Esperança, flores na delegacia, um sorriso,
Um abraço amigo, uma PT nas mãos.
Tira a roupa e deita, essa é a seita.
Aceita, à noite não existe, o sol brilha soberano,
Há anos me debato entre seres humanos.

Manos, procuro, estendo a visão, quem manda não ser burro, não sofria tanto,
Me levanto, ando, procuro uma saída, fingir, polícia também é gente.
Ta tudo certo, saio pela tangente, o bem e o mal são eternos.
Não tem meio termo, polícia é polícia, bandido é bandido.
As mãos que afagam também geram destruição.
Pulsa inveja, medo, desconfiança e solidão.
Cada um por si, polícia e bandido enquadram-se no mesmo artigo.
O diabo sorri.

Esta é a canção que eu fiz e não queria
Este e o rap da Delegacia
Esta é a canção que eu fiz e não queria
Este é o rap da Delegacia.

As leis e seus guardiões foram criados para proteger os cidadãos.
Na teoria, divinos são, mas na prática, se desviam de sua missão.
Os rigores da lei batem nos excluídos,
Os favores para os já protegidos.
Penso, reflito, refletir é preciso.
Possuem muitos braços o 171 do Dr Artigo, são muitos os incisos.
Insisto, a Dona Justa não tem muita paciência.
O coração está na ponta da caneta, que importa se vai mais um para sarjeta
Cadeia não redime, mudar a lei é preciso.

Ôh lugar!
Me tapo de nojo, de quero-quero.
Qual é o teu nome meu filho?
Não sabe! Amanhã tu vens mais cedo
Vem sorrindo e cantando e esconde esse medo
Vem sorrindo e cantando e esconde esse medo.


Esta é a canção que eu fiz e não queria
Este e o rap da Delegacia
Esta é a canção que eu fiz e não queria
Este é o rap da Delegacia.



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