quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O cachorro –Crendices e Agouro ( Conto)



O cachorro –Crendices e Agouro ( Conto)


Ao contrário de Portugal, onde o cão dispõe de uma imagem de fidelidade e devoção, no Brasil há uma associação do diabo com a palavra cão. Enquanto que a forma cachorro é usada aqui no Brasil em todas as camadas da sociedade como o maior amigo do homem. Claro que sempre tem os que não gostam tanto assim. Sabemos existirem em nossos meio homens e mulheres que não suportam o cheiro do bicho. Quando morava em Tubarão, conheci lá para os lados da Vila Moema, um morador conhecido por Berti. Morou pouco tempo, era de Laguna. Preferia ver o Tinhoso que ouvir o latido de um cachorro por perto de sua casa, principalmente no período noturno. Era o cachorro latir e saia o Berti arma em punho esbravejando: Guaderada dos infernos! Não me deixam em paz, mas acabo com a raça deles! Querem ter cachorro! Que tenham, mas em suas casas, presos! Amanhã à noite acabo com a raça deles. E dito e feito. Numa manhã ao sairmos para nossa caminhada costumeira avistei dois cachorros mortos, duros com as quatro para cima. Na tradição clássica lusa quem mata um cão deve uma alma a São Lázaro. No sinete do Santo Ofício está a figura de um cão. E graças aos muçulmanos a visão sobre eles na África ganhou sentido pejorativo, como em Angola, a cultura Banta os vê com comportamento de covardia, sordidez e servilismo. Veja Antonio! Dois Cachorros mortos ali!  Um parece ser o teu! Onde? Ali bem do lado esquerdo da rua, próximo ao mato! Está duro feito um pau! O Antonio foi chegando de mansinho, de longe reconheceu o bichinho, seu fiel amigo com uma baba saindo pelo lado da boca. Foi examinando quase que choramingando acariciando seu cão morto no chão. Nos Açores, lá em Portugal, Antonio, ao se referirem ao Demônio chama-no de cão negro e cão tinhoso. Dizem que essa cultura veio para o Brasil com os colonos açorianos no século dezoito. Já os Romanos antigos acreditavam que os cães viam os espíritos. Acreditam que quando uiva o cão está chamando desgraça para o dono.
Vira essa boca prá lá Pedro! Olha, parece morte por veneno, chumbinho! Será? Mas quem poderia ter feito tal malvadeza Antonio? Tenho certeza, pelo aspecto é veneno, o tal de chumbinho. É chumbinho sim! É vendido clandestinamente por algumas Agropecuárias! Sim, sim Antonio! Mas tens alguma suspeita de quem pode ser o envenenador! Nem faço ideias de quem poderia ser? É esse nosso vizinho, o tal do Berti! Eta homenzinho azedo!Por que Antonio? Não sabes Pedro, esse ai não gosta de cachorros, já ouvi dizendo que cachorro é cão tinhoso, do Demônio! Também já ouvi dizerem Antonio que quando o cachorro cava a terra com o focinho para a rua Antonio, ou cava à entrada da casa acreditam que cava a sepultura do dono! Mas se cavar a terra com o focinho voltado para a casa é sinal de dinheiro! Não sabia não dessas coisas não. Até fico meio mal do estomago! É crendice Antonio. Mas já vi noite que o vizinho Lagunense sai na rua de arma em punho dando tiros nos bichos! Quer ver um homem virado num capeta é quando na noite param em frente de sua casa uma cadela no cio e aquela matilha atrás, esse homem vira um Satanás! Crus credos Antonio! Nós que moramos perto, quase vizinhos, é que sabemos! Fiquei quieto me fazendo de morto, como que não sabendo de nada, mas já tinha ouvido e visto o Berti alucinado de revolver em punho atirando nos cachorros nas noites ao latirem em frente da casa dele. Alegava que não dormia com o latido dos cães. Existem outras crenças que se o cão dormir com a barriga para cima é sinal de azar, mas se urinar na porta é boa sorte. Acreditam também que o cão dito peçonhento, que possui uma unha a mais é capaz de ver e perseguir lobisomens. Outra noite ao ir para minha casa, na quase meia noite. Noite escura de inverno sem vento e um ar paralisante gelado saindo de minha boca. Caminhava meio que encolhido por causa do frio e de repente em meu ouvido: Boa noite! Boooa! Há seu Berti! Hoje sim, tudo calmo. Passeando? Não, estou dormindo! Acredite quem quiser, sei não... É Lobisomem o homem Berti!

autor - Odair Ribeiro





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